Apenas a procura

       Somos criaturas. Nada mais do que isso. Tentamos nos agarrar a tudo, para termos razão de viver. Porque sim, nós não temos nada. Nem inspiração, razão de viver e muito menos amor. Porque tudo isso são sonhos nossos. E o que são sonhos? Não sei se são reais, fantásticos ou simplesmente existentes. Ou inexistentes. Porque lá eu posso voar, mas da mesma forma sinto dor. Como algo que não existe pode ser tão real? E como algo tão real pode não existir? Viver pode ser muito menos que isso. Respirar. Talvez isso resuma tudo que diferencia o que está vivo e o que está morto. Mas o que está morto pode existir, em algum lugar. Seja ele palpável as mãos ou aos pensamentos. Mas está lá grudado, confundido até mesmo com o cenário daquela confusão. Porque respirar não justifica a existência de algo. Muitos de nós vivemos apenas respirando. Outros vivem sem respirar. Poucos até não existem e ainda respiram. Alguns não respiram, não existem e estão vivos. Nada não pode justificar tudo. Como tudo não pode justificar nada. Caminhamos procurando motivos, sorrisos, lágrimas em tudo. Porque é assim, e somente assim que trilhamos esses sonhos. Esperamos ganhar sempre algo de alguma coisa. Seja uma ferida, uma alegria, um prazer. Não estamos preparados ao não receber. Fomos feitos, criados, crescemos para o único fim de dar e receber coisas. Boas ou más. Tristes ou felizes. Mas também podemos fazer isso sem termos escolhas. Porque não conhecemos nada além disso. Nada além disso tudo. Porque até a vida quer uma coisa de nós: a nossa morte. Se queremos algo, é porque aqui já não temos mais isso. Mas durante todos os tempos que os Homens vagam solitariamente acompanhados, eles buscam algo. E nunca acharam. Foi o amor para a vida inteira, a estabilidade financeira, a felicidade. Onde está tudo isso? Onde está pelo menos um pouco do caminho para essas conquistas? Não existe. Não respira. Não vive. Porque nada disso nos pertence de verdade. Nada disso foi feito para ser encontrado. E sim, procurado.

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