Máscara de mim mesmo

       No início era como se tudo pudesse ser visto. Meu rosto por meio das palavras trêmulas, uma respiração pesada para o coração surpreso. Eu cheguei sem nenhuma personagem, sem voz e a noite estava nascendo. E enquanto as estrelas se tornavam nítidas em uma nova vida para mim, eu não estava preparado para receber, nem entregar, tudo que aquele lugar pretendia. Não era necessário ter uma alma, um rosto, uma verdade. O que importava era apenas as letras que formavam a sua mentira; se juntas elas falassem algo prazeroso e se separadas fizessem coisas que agradassem.
       Com um nome anoitecido comecei jogando duas letras, as mais sem importância e conhecidas por todos. Talvez para não chamar atenção para a minha inocência, mas eu sei que não seria diferente. Um silêncio separava os minutos e eu observava como os sussurros ganhavam caminhos. Não se podia ver todos, era como se a brisa os amassem. Eu sabia disso quando me sentia sozinho. Existia a música e eu não sabia dançar.
       Não se via a lua, mas acho que ela me entregou um pouco de seu disfarce. Deixando o som dos seus passos chegararem até mim, as palavras me invadiam de uma maneira silenciosa. Eu já não podia dizer era o mesmo de quando cheguei. Perdendo a meu rosto sobre uma alma caída, uma máscara nascia de mim mesmo. Dela saia uma voz quente. E apesar de não existir música, silêncio e nada que me tornasse inocente, eu aprendi a dançar. E no fim era como se nada pudesse ser visto. Nem a mim mesmo.

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