A sombra do garoto
Ele abriu os olhos e tudo estava diante deles. Não se lembrava do sonho que teve aquela noite, nem dos dias que poderiam ter vivido antes daquilo. Ele começou a observar a si mesmo; passava a mão sobre seu braço, em seu rosto. Via seus próprios dedos com um brilho nos olhos e de sua boca nasceu um sorriso. Então descobriu que conhecia muitas coisas, apesar delas nunca o terem conhecido. Ele estava vivo. Agora ele queria sentir como era essa vida em seus pés. As imagens que mexiam de uma distante janela o chamava para fora. Era isso que ele queria.
Pulando da mesa que tinha desperto, foi devagar em direção a porta ao encontro daquele mundo que o esperava. Ele não saberia dizer como a porta se abriu sozinha, mas não deu importância para isso. O sol estava deixando a timidez de se esconder no horizonte e quando ele saiu, ficou encantado com a grandeza daquele lugar, decidindo assim ver como os seus passos ficariam naquele chão.
Não se passou muito tempo para perceber que as pessoas que ali caminhavam eram maiores que ele. Elas o olhavam de uma maneira carinhosa. Elas realmente seriam gigantes se não tivessem esses olhos tão bonitos, pensou ele. As pessoas pareciam gostar dele, como ele gostava delas. Algumas apenas olhavam curiosas, outras paravam e se agachavam, conversavam e todos o elogiavam:
--- Que garotinho lindo! --- dizia uma moça ao passar por ele.
--- Obrigado, bela donzela. --- respondia ele com um grande sorriso. Todos ficavam encantados com a sua eduação.
E depois de muitos elogios e vários "Obrigados", agora com o sol às suas costas, ele notou que apesar de ser muito menor do que as pessoas, a sua sombra era do mesmo tamanho que a delas. Isso o deixou um tanto mais feliz e achar que talvez fosse por isso que as pessoas gostassem dele e o elogiassem tanto. Ele voltou para casa na mesma alegria do amanhecer, mas já era noite e sua ânsia pelo sono era simplesmente para que o amanhã chegasse trazendo mais descobertas. Ele queria encantar mais as pessoas e esperava por mais daqueles elogios. E de volta para a mesa, se deitou. Ele não queria acordar sentado como da primeira vez.
Ele acordou primeiro que o sol naquele segundo dia de vida. Estava assustado, atrás dele se podia ouvir sons estranhos. Ele tentou se virar para ver o que poderia ser, mas não tinha forças para isso. A única coisa que ele conseguia fazer era sentir medo e o seu coração batia mais rápido. Foi assim o tempo inteiro, até que o sol dissesse que estava preparado para respirar.
Aos poucos, junto com o amanhecer, o silêncio foi invadindo aquele pequeno mistério. Algo mais forte que ele, talvez um desejo, o fez levantar e ir para o que no dia anterior era sua maior grandeza. Mas nada parecia tão maravilhosos como antes, porque tudo o que lhe prendia agora era a inquieta ideia do que poderia ser aqueles sons. As pessos continuavam com o mesmo olhar, com os mesmos elogios, mas ele não sabia se retribuia da mesma maneira.
Aos poucos, junto com o amanhecer, o silêncio foi invadindo aquele pequeno mistério. Algo mais forte que ele, talvez um desejo, o fez levantar e ir para o que no dia anterior era sua maior grandeza. Mas nada parecia tão maravilhosos como antes, porque tudo o que lhe prendia agora era a inquieta ideia do que poderia ser aqueles sons. As pessos continuavam com o mesmo olhar, com os mesmos elogios, mas ele não sabia se retribuia da mesma maneira.
Em alguma parte do caminho o mesmo desejo, que ele já não sabia que nascia dele, o fez parar de repente. Já que estou de pé, pensou, tenho forças para me virar e ver se estou sendo seguido. Ele sentia os sons muito próximos desde então. E quando virou, se viu diante de pernas iguais daqueles que o elogiavam, mas essas eram desconhecidas. Primeiramente achou que seria mais um para o elogiar e logo levantou a cabeça com um grande sorriso no rosto. Esse sorriso tinha um pouco de alívio e mentira.
Quando pode ver quem era, nada lhe chamou mais atenção do que a mão que estava sobre ele. Nela havia linhas que se ligavam a cada parte do corpo daquele garoto e quando ele percebeu aquilo, entendeu tudo o que não tinha dado importância e o que o fez sentir medo. Ele tentou gritar e não tinha voz; não existia força alguma naquele corpo. Não existia nada ali. Ele soube como a porta o entregava aqueles dias e que aqueles sons eram os mesmos que achava que o pertenciam. O desejo não era dele. Talvez ele soubesse de tudo isso, mas até o dia vivia além da janela.
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