Presente intocado

      Não era para eu estar aqui, contando as horas para o próximo amanhecer. Eu deveria estar desmanchando meus pensamentos sobre as páginas de um futuro; colorir a minha mente com histórias que nascem em algum lugar de um mundo desconhecido. Mas esses dias nunca me foram inteiros e os pedaços sempre cortaram minhas mãos me trazendo sorrisos pequenos. E o sangue não existe, mas a escuridão escorre por onde em meus olhos deveriam brilhar. Minhas mãos se ocupam em guardar um vazio que nasce de uma alma que treme com o branco dos sonhos mal escritos. Cada um sussurrado na quebra de tempo que o relógio insiste em viver ao invés de mim. Porque até agora, tenho escutado apenas isso e, nem ao menos, tento tapar os ouvidos. São nessas voltas que se encontram nossas lágrimas quietas, acenando todas as vezes que passamos repetidamente. Cansado, eu penso nos abraços dos meus próprios braços e sinto que os laços não são tão seguros. E os silêncios os desfazem como se fossem feitos de ventos e desilusões. Dessa maneira o meu passado se espalha atrás de mim e nada pode construí-lo como pede um presente que não consigo manchar.

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