Despir-se
Faz vinte anos que estou com essas roupas
São elas que me foram colocadas ao nascer
De fato, troquei algumas peças ali e aqui
Mas elas nunca me permitiram a pele
Agora, quase aos vigésimos primeiros acordes,
Tais vestimentas parecem não mais me servirem
Talvez seja a hora de ficar um pouco despido
Um ano, dez, ou pelo resto das passagens até o fim
Não sei! Ainda lá não cheguei e aqui está suspenso:
As luzes acesas se mostram, para mim, apagadas
Enquanto o escuro parece me enxergar mais
Com as roupas, vão-se os assuntos profundos
Quem sabe por isso os meus dizeres viraram rasos
Deixar a pele se arrepiar com os ares que vêm
Sejam eles quentes ou frios, agitados ou calados
Sem saber de onde eles nascem e como se deitam
Quando a noite chegar, talvez, eu rasgue os tecidos
E com a permissão que me atingiria já de prata
Eu atire preciosas pedras que, ao longe, me tingirão
Se não conseguir, eu sei, posso tentar ao amanhecer
Mas mesmo que as luzes dos dias me assustem
O corpo que não quer a troca de roupas
Obriga as roupas a buscarem um novo corpo.
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