Na doença
Quando nós ficamos
doentes, não nos lembramos dos tempos limpos
Assim acontece também
com a Vida: ao estarmos vivos, não lembramos
Dos bilhões e bilhões
de anos na escuridão, quando não existia o lá fora, nem o aqui dentro
Seria a Vida uma
doença? –– Nossa maior e única e verdadeira doença?
Então nós criamos
tantas histórias, tantos caminhos e tantas certezas
Apenas para nos distrairmos com nós mesmos, enquanto vamos para lugar nenhum
Como acontece também
com a Dor: não A sentindo, não lembramos
De toda a Sua
profundidade e substância –– E outra vez:
Um corte na mão
esquerda, os pés sangrando e o coração em partes
Tão frágeis, nós
somos, sobre estas linhas entre dois nadas
Alguém já conseguiu
contar quantas dessas nossas certezas são mentiras?
Ensinaram, ensinam e nos
ensinarão somente aquilo que as línguas se acostumaram a dizer
É o que acontece
também com o Amor: ao procurá-lo, não lembramos
De todo o resto que
sentimos, mas do que nos cochicharam sobre Ele
E se algum dia,
quando eu estiver garoto, o meu beijo encontrar um outro beijo igual a mim?
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