Poema in-verso

Nesses horários em que não posso, nem consigo, dizer,
eu fico pensando como acontece a troca da palavra pelo interno
e semelhante à certeza, plana como os cantos dos corações ––
construção essa, aliás, bem comum em todas as casas que visitei ––
que escurece com o encaixe perfeito de um outro objeto qualquer e estranho.

In-versamente, já conduzi as letras a um mundo onde todas são sentidos,
quase sem nenhuma febre, sangue coagulado ou nós de cócegas.
Perdoem-me as crianças, mas... Quando mais preciso de minha virtù,
ou seja, torcer as batidas e as substâncias para que haja a alquimia do verbo,
a fortuna me toma pelos braços e me conduz a dança como o cavalheiro que ela é,
tornando-me infante que ainda não aprendeu a versar com os próprios passos.

Fora do corpo, onde tudo isso se derrama ou em sons ou em imagens,
nada desses processos importa, existentes da mesma forma que estrelas ao dia.
Eu, que sinto todos esses moinhos girando cada respirar antigo em novo,
até agora não consegui, nem pude, deixar de pensar nas trocas que acontecem.
Ontem, data tão distante que parece próximo, eu desversava o inverso que era meu,
mas, doentemente, parece que desaprendi a tecer e hoje sou daquilo que a ação repousou
a buscar, noutros verbos e noutros tecidos, o que também pode ser deste pronome.

O depois me ensinou a in-versar aquelas coisas que, antes, eram versos que viam,
moravam e, mais cansados do que quando chegavam, partiam por mim e por aí.
Mas se posso ser infiel, ao menos uma vez, aos meus queridos inversos, serei:
os re-versos viajantes que pernoitavam aqui, tornavam a estadia mais permanente.

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