Botão caído
Dedicado à musicalidade scalênica
Quando eu cheguei, tão timidamente como uma criança
Que teme o castigo de voltar para a casa ao dia seguinte,
Os corpos borbulhantes já dançavam na superfície da noite.
Por esses lados da cidade, as cerimônias começam muito
cedo:
As geladas poções se misturam com as fumaças xamanistas
Formando, assim, uma grande ondulação aonde o vindo,
retorna;
E agora indo, segue igual caminho, mas é além do antes e
vice-versa
Diversificadas orquestras desfilariam dentro do festivo
recinto
No entanto, somente de uma eu queria conhecer a marcha;
Com tanto apetite instrumentivo, eu me permiti voar até
lá.
Dias atrás, o convite já me tinha permitido adentrá-lo
Semelhante a uma profecia improferida por tamanha
incerteza.
Eu vendi a minha presença e os meus ouvidos e
simplesmente fui...
Se o meu sono não cobrisse o sol com negros e espessos
cílios
Talvez eu estivesse de pé a ver a multidão à luz do cair
vespertino
Desatados os obstáculos divinos à porta do suposto paraíso
(Nenhuma pouca idade, nem metais impreciosos e afins),
Tive como companheira inseparável a fluorescente
liberdade
Em seu verde que se atava, para sempre, ao direito braço.
Então, me foi revelado o pequeno mundo dentro do mundo,
Onde o preto é branco e onde o pandemônio é melodia;
Eu quis ficar, mesmo com o anúncio, entregue a prévias
horas,
De que a banda que eu esperava já teria marchado o
carnaval
Desacreditei o destino e me esqueci do que haveria
perdido
E descobri que eram felizes aqueles que não culpam os
amigos.
Logo, ao serem abertos os sons, me ancoraram que quem
cantava
Era o esperado que eu já nunca mais esperançava visitar:
Eu avistei a terra que nunca me fora prometida ser
cumprida
Diante dos meus olhos. E diante dos meus olhos eu a
tinha!
Enquanto as guitarras ressonavam na caixa óssea que me
guardo,
A minha pele servia de tambores para as inquietas
baquetas.
Cada entoar contrabaixo me tornava, de longe, o mais alto
Sendo que a voz ruiva, ah, parecia quase cantar só para
mim
–– Parecia quase
cantar só para o todo do mundo ouvir!
As despedidas me pousaram feito um inesperado puxão
Que me arrancou o botão do caríssimo terno que eu vestia
E, também, do peito que eu carregava na queridíssima
rosa.
Da mesma forma que me inclinei a encontrar o botão no
chão,
Achei a coragem profunda na superfície do instante
presente
Rendendo-me a encarar o rosto ruivo da voz ruiva que fez
de mim, aceno.
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