Dito-cujo

Eu faço coleções passageiras, como as quenturas nas mãos
Que se esvaem sob as torneiras com águas frias chuvosas.
Aos poucos, assim de repente, elas vão formando uma corrente
Invisível: as prendem nas peles do corpo que se rasgam
E se rasga ao tentar se desvencilhar. Ah! A solidão é
Tão acompanhante quando estamos sozinhos conosco!

Nu, a carne viva me afirma: “Quem é este que transluz
Em seu perfil e aparece quieto quando você se movimenta?
É como uma sombra colorida em carvão e diamante; é como
Um pistoleiro na espreita, à espera do abate de um terrível amigo”.

Quantas voltas e voltas em volta do meu próprio mastro eu dei,
Até que os dedos tantas vezes descessem e como outras subissem.
O tão esperado tiro acerta o mármore virgem com um rabisco 
Negro eventual, enquanto corta o espelho onde a imagem do outro
Se reflete, assim como se reflete os seus pensamentos no mesmo.

“Este é aquele que ofusca o seu rosto e desaparece em movimentos
Quando você está quieto! É como uma coloração de madrugadas
E vigílias; é como um inimigo que, tendo a chance, não morre 
O seu amável consorte”, me pergunta a morta roupa. Sonambulei-me.

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