Jardim suspenso
Árvore infrutífera, eu sou incapaz de lembrar os versos
Esquecidos de minha vida. Pergunto-me onde foi que os perdi...
Ainda que eu desse frutos, como me disseram ter alguns passarinhos
e beija-flores,
Seriam eles pequenos quando devessem ser muito grandes
E sem sementes quando, na verdade, deveriam cocegar esperanças.
Os meus membros guardam uma força tão rígida, como as profundas
raízes.
Isso equivale, no coração, a orvalhadas danças de desejos e sonhos,
Mas a minha fortaleza não amanhece as espalhadas gotículas
almosas,
Nem a minha clareira consegue refletir os altivos raios de
solidez.
Se a alma quer comer os fracassos e os dentes já não temem ser quebrados,
Por que, então, o meu corpo e a minha vontade permanecem cruzados,
quietos?
Também não entendo como de um único ponto se expandiu toda origem
Ou como depois de um, surge o reinício maiúsculo, palavra, frase,
história...
Já fui semente e há quem diga que por isso eu consiga mais do que
compreender.
Enganam-se, porque eles não aprenderam que a flora humana é
diferente da natural:
De fato, o tempo passa sobre tudo e os troncos engrossam, os ramos
se folheam,
Mas isso nem sempre é o mesmo que o desatar da coragem e da
vontade de altura.
Crescer é perda do controle, andança por várias direções
saboreando da igual seiva
Tragicômica; é lugar onde sonhos são barganha para pungentes
sacrifícios.
Quando fui olhado de baixo, me apercebi muito rente, apaixonado
pelo chão,
Com os olhos bem vendados e os pés descalços de ossos. Assim, eu
me arrasto
Pelo jardim suspenso por meus pais em minha homenagem, em meu
maldizer:
Vinguei-me tranquilamente, sempre acompanhado dos cultivos e carinhos,
Mas, também, na lenta lentidão e custosamente entre pedregulhos e espinhos.
Ao chegar perto dos portões da dormência, bosque virgem às vistas
humanas,
São os pesos das escolhas maquinais que me somem os supostos olhos
adultos.
O maior das vertigens não é a falha do equilíbrio, mas tê-lo e
ainda sim se recusar
A parar de girar: os braços soltos e a firmeza das pernas são a verdadeira prisão.
A parar de girar: os braços soltos e a firmeza das pernas são a verdadeira prisão.
Nas florestas para além destes jardins, ao verem as diversas
árvores caminhando,
Aquela que estiver fincada em seus próprios movimentos –– essa sou
eu!
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